”Todos iguais, todos diferentes”
Este slogan publicitário em voga é perfeitamente ilustrativo da nova ordem. O propósito da aspiração igualitária contemporânea é postular para qualquer um o direito a aceder ao reconhecimento por aquilo que é, independentemente de toda a legitimidade extrínseca ao indivíduo. A “minha” subjectividade é, em si, um critério de verdade. A obra propriamente dita já não é o princípio fundamental do acesso ao reconhecimento. O narcisismo contemporâneo tende a desvirtuar até mesmo o princípio do acesso ao reconhecimento - tradicionalmente fundado sobre a expressão de um talento -, em prol do direito a aparecer.
De certa maneira o extraordinário desenvolvimento da indústria do divertimento responde ao desejo de se aceder o mais rapidamente possível ao estatuto social de “gente”, a partir de um modo de selecção tão impiedoso quanto arbitrário: aquilo que faz com que alguém agrade ou não, seja engenhoso e inteligente ou não, sensual ou não, etc., em suma, que irrompa pelo “ecrã” da sociedade do espectáculo ou não.
Neste quadro, a democracia televisiva dá hoje a qualquer um, desde que o saiba fazer, os meios de “existir” aos olhos dos outros. Porque a condição requerida para aparecer nos projectores da sociedade do espectáculo não é a singularidade mas antes o inverso: a semelhança ao protótipo procurado com o qual se identificarão os “adolescentes” e os “jovens”, que são os consumidores privilegiados da indústria do divertimento. (…)
Mas se é suficiente aparecer aqui ou acolá, nos Media ou no pequeno ecrã, para ser reconhecido, para quê o esforço de estudar ou passar exames para aceder a profissões desvalorizadas, menorizadas pelos critérios em voga? Interroguemos um adolescente e vejamos o que representa aos seus olhos, hoje, um médico, um juiz ou um professor ao lado de um comunicador bilionário ou de um futebolista analfabeto."
Paul-François Paoli, Les Impostures de l’égalité, Max Milo Editions, pag.23
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