A 9 de Outubro de 2009 o Jornal Expresso noticiava:
“Morreu no Porto
a estrela da rádio portuguesa Maria Clara, célebre intérprete de êxitos
musicais tais como 'Figueira da Foz', Marcha do Vapor, 'Marcha do Centenário',
'Zé Aperta o Laço', De lá para cá, entre outros”.
A 'Rainha da
Rádio' de 1960, conhecida ela sua voz cristalina, foi também uma das vozes
marcantes dos 'Serões para Trabalhadores', programa da ex Emissora Nacional.
Maria Clara
estreou-se profissionalmente em 1943, na opereta 'A Costureirinha da Sé', penso
que no Teatro Sá da Bandeira no Porto. Na altura a revista 'O Século Ilustrado'
elogiou a performance de Maria Clara, que assim despontava para o
estrelato.
A peça foi um sucesso e a editora Valentim de Carvalho convidou-a para
gravar um disco nesse mesmo ano de 1943. Seguiu-se depois
uma brilhante carreira na rádio.
Ainda na década
de 40, representou Portugal no Festival Internacional de Rádio, em Marrocos,
tendo feito também, várias digressões pelo Brasil.
Mas nem tudo
foram flores na carreira desta cantora que curiosamente chegou a ser "chumbada" quando concorreu pela primeira vez à ex Emissora Nacional.
Diz-se que tal
aconteceu talvez devido ao seu casamento com Júlio Machado de Sousa
Vaz (pai), opositor ao regime de Salazar e Professor
Catedrático de Medicina da Faculdade de
Medicina da Universidade
do Porto, que curiosamente era neto do ex-Presidente da
República Bernardino Machado, hoje patrono da antiga Escola Industrial e
Comercial da Figueira da Foz.
Após o seu casamento com o Prof. Júlio Machado de
Sousa Vaz, Maria Clara foi viver para a cidade do Porto, deslocando-se a
Lisboa, sempre que o seu trabalho artístico o exigia.
Maria
Clara morreu no Porto a 1 de Outubro de 2009.
Já agora, sobre o seu filho, para quem não sabe, trata-se do famoso e brilhante professor
universitário Júlio Machado Vaz, ilustre psiquiatra e bisneto do
então Presidente da República Bernardino
Machado, que por sinal passava férias regularmente na Figueira da Foz.
Júlio Machado Vaz (filho) doutorou-se em Psicologia Médica e foi Professor auxiliar do Departamento de Ciências do Comportamento do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto, onde foi regente da cadeira de Antropologia Médica, e ainda hoje professor do Mestrado em Sexologia da Universidade Lusófona.
É também vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, tendo sido feito Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, a 30 de Janeiro de 2006.
Tem participado em diversos programas de rádio e televisão,
mantendo-se actualmente na Antena 1 (RDP) com o programa O Amor É… (com a jornalista Inês de Menezes) que vai para o ar de segunda a sexta e,
aos domingos de manhã, em emissão alargada, que ouço regularmente com agrado e
que recomendo.
É autor de mais de uma dezena de livros, cujos temas vão das
relações interpessoais ao romance, passando pelo ensaio.
Voltando à sua mãe a saudosa Maria Clara.
Como todos sabemos, um dos seus maiores sucessos, para não dizer
o maior, foi a canção "Figueira", música de Nóbrega e Sousa e letra
do nosso conterrâneo António de Sousa Freitas.
Esta canção, com uma letra que descrevia de forma tão romântica
e maviosa o ambiente ímpar da praia da claridade nos seus anos dourados do
turismo balnear, e com aquela música, qual ode às férias felizes de gerações e
gerações de portugueses, cantada pela voz melodiosa de Maria Clara, marcou para
sempre o coração dos figueirenses e de milhares e milhares de veraneantes, que
de todo o lado rumavam até aos encantos da Rainha das Praias de Portugal … de finas areias, berço de sereias
procurando abrigo.
Tratava-se de uma grande senhora. Sabia aliar um incrível bom
gosto na forma como surgia elegantemente vestida a cantar com aquela voz tão
rara e inconfundível. O registo da sua voz cativou o público. Uma voz de
cambiantes maravilhosos, transmitindo uma sonoridade invulgar. A crítica
elege-a na altura como “um novo estilo na música portuguesa”.
O tema “Figueira da Foz” ficou como um hino maravilhoso e
legenda viva do património imaterial da nossa cidade.
Entretanto fiz uma breve recolha de informação pública e
publicada sobre Maria Clara e a canção Figueira, enquanto símbolo/ícone
representante incontornável da nossa cidade, tendo selecionado alguns
depoimentos de outros tantos figueirenses a este propósito:
“A Figueira da
Foz, designadamente os seus autarcas, em matéria de reconhecimento de
personalidades relevantes para a cidade, constitui um dos mais bizarros
exemplos. Presta-se homenagem a quem nunca fez nada por esta cidade e atiram ao
esquecimento grandes vultos que deviam ser motivo de orgulho para a nossa
terra, como Maria Clara”;
“Calou-se a voz mais acarinhada pelos amantes da Figueira da Foz, aquela
que levou mais alto a beleza do mar, da serra e das finas areias da nossa
terra. Não há quem não conheça a linda canção da FIGUEIRA pela voz melodiosa de
MARIA CLARA”;
“Calou-se a voz doce da mais bela canção que a Figueira já teve";
"Maravilhosa, cheia de poesia e beleza, uma música maviosa com uma melodia que tocava até aqueles que não são figueirenses". Um pouco por todo o país esta canção era trauteada e conhecida";
"Concordo que a Figueira tem que
prestar uma grande homenagem póstuma à cantora, com a atribuição do seu nome a
uma artéria importante da cidade”;
“É verdade, sempre que
ouvia a canção Figueira sentia uma grande emoção e orgulho por ver tão bem
retrata numa voz a nossa Figueira.
Esta canção será eterna para as gentes Figueirenses”.
Esta canção será eterna para as gentes Figueirenses”.
"Figueira... Figueira da Foz... das finas areias... berço de
sereias...", da autoria do compositor Nóbrega e Sousa e do figueirense
António de Sousa Freitas, foi uma melodia que ficou célebre e correu mundo,
divulgando o nome da Praia da Claridade".
Vem isto a propósito de
um breve diálogo que tive com o Prof. Júlio Machado Vaz, na apresentação do seu
último livro, ocorrido no Porto em Dezembro de 2018.
Confesso que fiquei um
tanto indignado como figueirense, quando ele referiu que tinha sido contactado pela
Câmara Municipal da Figueira da Foz, pouco depois de sua mãe falecer (Outubro
de 2009), para estar presente numa homenagem (mais que justa e justificada), a Maria
Clara, com a atribuição de seu nome a uma rotunda (rotundo mau gosto, rua ou
avenida teria sido mais apropriado) da cidade.
Segundo me referiu, só passados
uns quatro meses a Câmara voltou a contactá-lo, para lhe dizer que a referida
homenagem afinal já não se realizaria, com a justificação absurda, deselegante
e indigna, de que a Câmara tinha mudado em resultado das eleições autárquicas.
Tal homenagem nunca se realizou até hoje.
Pelo respeito à memória
de sua mãe,disse-lhe, de gerações de figueirenses e de tantos e tantos milhares
de outros portugueses, que se revêm na canção Figueira, enquanto hino emocional
de uma época e de um lugar, venho comunicar-lhe que não descansarei enquanto
figueirense, até que a justa e devida homenagem a Maria Clara seja realizada, com a atribuição do seu nome a uma artéria
relevante da cidade, que ajudou a conhecer, divulgar e a imortalizar.
João Saltão
Dez 2018
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