AFINAL NÃO SE PODE VIVER SEM O DIESEL






A greve dos motoristas de matérias perigosas chegou ao fim. Ontem o governo, logo pela manhã, apressou-se a fazer uma declaração para comunicar a paz aos portugueses. É provável que lá para sábado o abastecimento fique reposto e normalizado em todo o país.
Não deixa contudo de ser irónico que o nóvel ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos, depois de ter estado recatado e sem dar a cara durante os três dias de crise, se tenha apressado agora a tirar louros da suspensão de uma greve, que no dia anterior o Primeiro-Ministro afirmava não ser da sua responsabilidade, nem do seu governo.

Segundo o amigo Carlos Reis, estes 3 dias comprovaram três coisas:
1.º - Incompetência do governo;
2.º - Impreparação do país em infraestruturas técnicas nos vários domínios (proteção civil, logística, transporte e abastecimento etc.);
3.º - Impotência interventiva dos velhos sindicatos controlados pela CGTP/PCP, perante a nova realidade sócio-laboral e sindical, que aos poucos vão deixando de dominar.

Um governo que era sabedor desde o dia 1 de Abril, da realização desta greve, falhou na preparação logística das estruturas críticas, na definição dos serviços mínimos, e esqueceu-se chocantemente do resto do país, quando circunscreveu a intervenção daqueles serviços, às regiões metropolitanas de Lisboa e Porto.

O país em geral não está preparado para estas e outras eventualidades (logísticas em situações de emergência, incêndios, tempestades como o Leslie na Figueira, catástrofes naturais etc.), ou seja está preso por arames, ao sabor do improviso das autoridades.

O principal aeroporto do país é o único aeroporto europeu da sua dimensão, que não é abastecido por oleoduto, dependendo de 180 camiões-cisterna a circular todos os dias para o abastecimento de combustível, entre a A1 (Aveiras) e a Segunda Circular.
Qualquer evento imprevisto, grande e significativo, como esta quebra de abastecimento de combustíveis ao aeroporto de Lisboa, tem portanto, potencial para isolar internacionalmente o país.

Acresce que o novo Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosos (SNMMP), obteve já uma vitória retumbante: obrigou o governo e as empresas representadas pela ANTRAM, a sentarem-se à mesa de negociações, tendo garantido o reconhecimento da nova categoria profissional dos seus filiados (motoristas de transporte de matérias perigosas, que determina que estes profissionais detenham competências técnicas muito específicas em matéria de segurança), ultrapassando completamente o velho sindicato comunista que tinha assinado em 2018, um acordo coletivo de trabalho, no qual aqueles trabalhadores não se revêm.
O que começa a ser evidente é que o PCP já não tem o monopólio do controlo das relações laborais e que já não consegue, como no passado, impor a obediência ou o silêncio aos trabalhadores, como tem acontecido com outras classes profissionais.

Por fim, esta situação permitiu também demonstrar mais uma vez, o papel patético do Bloco de Esquerda, que quando há que intervir em assuntos sérios e prementes, torna-se num grilinho falante de oportunismos e contradições, pela voz da sua líder. Isto porquê?
Como já vimos, a greve terminou ontem, graças à garantia de negociação entre as partes, que assim irão superar o último acordo coletivo de trabalho da CGTP, o qual deixou as legítimas reivindicações destes motoristas de fora.
No entanto, pasme-se, ainda ontem Catarina Martins apontava como a causa principal da greve “o enfraquecimento da contratação coletiva resultante do tempo de intervenção da troika”, ou seja, foi precisamente a solução encontrada ontem, para resolver este problema laboral, que acabou com a greve (gostaram do paradoxo desta arauta das liberdades?)
E isto sem que aquela dirigente do Bloco, nunca tivesse proferido uma palavra durante os dias de greve, sobre os baixos salários que estes camionistas de matérias perigosas auferem.
Ou seja, PCP e Bloco estão hoje cerceados e impotentes, e mais do que nunca, agarrados ao governo que suportam e cujos orçamentos aprovam.

Mas, a meu ver, a conclusão principal deste episódio é mesmo esta:
Para os arautos da propaganda da transição energética, como o inefável Ministro do Ambiente (que agora detém um “especialíssimo” Secretário de Estado proveniente da Câmara Municipal da Figueira da Foz a gerir a pasta), para os deslumbrados das elites urbanas com os novos meios de mobilidade “trendy” (ou seja, automóveis e trotinetes “go electric”), e finalmente para os governantes que no passado dia 1 de Abril, se pavonearam com os passezinhos na mão, nos transportes públicos em Lisboa (embasbacando jornalistas que reproduziam fielmente o mantra que os novos passes irão retirar 40.000 carros por dia em Lisboa), a meu ver, aqui fica a conclusão:
Infelizmente o país precisa mesmo de andar de carro.
É que o país, e as pessoas, não funcionam sem gasóleo e gasolina.
Habituem-se! …. como dizia o pequeno Vitorino.
João Saltão.






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