JOGOS DE FORTUNA E AZAR NO TURISMO DA FIGUEIRA ... E DO CENTRO.










No início do século passado ia-se a banhos às praias da Figueira, Espinho ou Póvoa de Varzim, para além de umas idas à então chamada “pataqueira” para jogar à batota. Estas expressões relacionadas com o jogo ficaram na tradição oral até hoje, mas as suas práticas foram há época totalmente interditas.
A 3 de dezembro de 1927, uma ditadura militar sem "clientela eleitoral”, legalizava o jogo em Portugal, acabando com as casas de jogo clandestinas, (as tais "pataqueiras"), definindo quais as apostas de fortuna ou azar autorizadas (o "monte", ou a "batota", ficaram de fora), e a 1 de Julho de 1928, entram em funcionamento as primeiras explorações legais de jogo no país.
Em 90 anos de jogo legal (assinalados no passado dia 1 de Julho de 2018), poderemos dizer que muito mudou e pouco mudou.
As populares roletas da sociedade balnear já contam pouco. O grosso das receitas do sector entra pela via das “slot machines” e, cada vez mais, pelas apostas online, legalizadas em 2015.
Deixou de haver zonas temporárias de jogo e o mapa dos casinos entrou pela capital dentro (Casino de Lisboa). Mas as concessões mantêm-se ainda hoje com um sistema de monopólios regionais e o jogo ficou para sempre associado ao turismo, com quase quatro quintos dos impostos cobrados a financiarem a máquina de promoção do país no exterior, através do Turismo de Portugal. A tributação da actividade de jogo em casinos, que desde início da sua exploração ia até aos 50% das receitas, também pouco se alterou até aos nossos dias.
Parece que a legislação da concessão de jogo pode vir a mudar dentro de cerca de um ano, ou pode mesmo ficar tudo como está, dependendo de um conjunto de factores em estudo
O certo é que em 2020 chegam ao fim as concessões dos casinos do Estoril, Lisboa e Figueira da Foz, as quais representam mais de metade das receitas brutas do jogo de casino em Portugal (52% em 2017).
Acresce que daqui a 3 anos, ou seja em 2023, caducam os contratos dos casinos do Algarve, Espinho, Póvoa de Varzim e Madeira. Só os casinos dos Açores, Chaves e Tróia, com concessões até 2033, deverão ficar fora dos novos concursos públicos para zonas de jogo de Portugal, segundo o Ministério da Economia e o Turismo de Portugal.
Nos termos da lei, o jogo em casino pertence ao Estado, que o cede para exploração a privados. O próximo concurso público que será o primeiro a realizar-se em 20 anos, acontecerá num momento de forte crescimento do turismo, constituindo um quadro potencialmente atractivo para novos concorrentes.
Em 2018 os casinos portugueses realizaram 311,34 milhões de euros de receitas brutas (mais 5,2% que em 2017). A maior empresa do sector, a Estoril-Sol (Casinos de Lisboa, Estoril e Póvoa), viu aumentar os seus lucros em 86% para 13,88 milhões de euros - com fortes contributos do Casino de Lisboa e do jogo online, embora com resultados negativos na Póvoa do Varzim.
As concessões de casinos são as grandes financiadoras do Turismo de Portugal e das suas actividades, com 77,5% do imposto especial sobre o jogo ir directamente para os cofres do Turismo. Só 20% revertem para o Orçamento de Estado. Aquele imposto financia ainda o Fundo de Fomento Cultural e os municípios onde existem casinos, como é o caso da Figueira da Foz.
Do total de impostos a pagar ao Estado em 2019, as concessionárias de jogo pagarão valores mínimos de imposto especial de jogo ao Turismo de Portugal, que vão de 45,35 milhões de euros da Estoril-Sol (Casinos do Estoril, Lisboa e Póvoa do Varzim), a 5,2 milhões de euros do Casino da Figueira (Amorim Turismo).
Os impostos pagos pelos casinos servem para a máquina do turismo funcionar, designadamente em investimentos turísticos no estrangeiro e também para as campanhas promocionais, como por exemplo a “campanha” da onda na Nazaré em Nova Iorque feita no ano passado, e o recente vídeo de promoção do Turismo do Centro, onde a Figueira da Foz foi simplesmente ignorada.
A contrapartida do jogo no valor mínimo de 5,2 milhões de euros (poderá chegar aos 8 milhões), a pagar em 2019 pelo Casino da Figueira/Grupo Amorim Turismo, ao Turismo de Portugal e em particular ao Turismo do Centro, no mínimo, merecia uma referência ao turismo da Figueira da Foz no referido vídeo promocional da região Centro, premiado, e bem, nos EUA, dotado de um excelente conteúdo e dinâmica comunicacional.
O mesmo poderíamos dizer em relação “site” oficial do Turismo do Centro, onde são breves e de pouco relevo as referências à praia da Figueira da Foz, à praia da claridade, ou seja, uma praia e uma cidade quase esquecidas naquele roteiro oficial, apesar de há pouco tempo ter havido um “refreshing” da “frame” dedicada à Figueira da Foz, com mais alguma informação (na versão anterior eram poucas e irrelevantes as referências à oferta turística da Figueira), talvez fruto de reparos como este que aqui e agora faço. 

É óbvio que cabe às instituições regionais e locais, ou seja, Turismo do Centro, Comunidade Intermunicipal de Coimbra e, sobretudo à Câmara Municipal da Figueira da Foz, ultrapassarem eventuais diferenças de ideias, projectos, políticas ou outras, por forma a que as potencialidades do turismo da Figueira da Foz (que as há e de grande qualidade), não fiquem para trás ou em segundo plano, nas ofertas turísticas da região e do turismo do centro. 
João Saltão

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