CARNAVAL, METEOROLOGIA E INOVAÇÃO




Desde o passado fim-de-semana até terça-feira de Carnaval, decorreram em várias cidades do país, incluindo a Figueira da Foz, os habituais e tradicionais desfiles, cortejos ou corsos de Carnaval.
Como já referi, não tenho nada contra este tipo de eventos, nem tão pouco me irei pronunciar sobre a sua importância social, económica e cultural para a cidade, uma vez que, como quaisquer outros, caso satisfaçam os gostos, anseios e participação da população residente e visitantes, poderão e deverão ser promovidos e apoiados pela autarquia, ponto.
Acontece que esta tradição de desfiles de rua importada do Carnaval do Brasil, designadamente do Rio de Janeiro, transposta para o inverno português, poderá condicionar o sucesso dos festejos, devido a razões meramente climatéricas ou meteorológicas, que em situações adversas, podem provocar adiamento ou mesmo supressão dos cortejos, como aconteceu na passada terça-feira na Figueira da Foz.
Há vários anos que se discute a possibilidade de realizar este tipo de cortejos na época de verão, considerando as melhores condições de clima próprias da época, que no caso da Figueira da Foz, por ser uma cidade de veraneio, poderá ser uma mais-valia, pela afluência significativa de veraneantes e turistas, eventualmente disponíveis para participar naqueles folguedos, e assim proporcionar um ambiente, diremos, mais “solto” e descontraído, próprio da época de verão.
E porque não?
Esta eventual transferência do desfile de Carnaval para os meses de Julho, Agosto ou Setembro, não implicaria necessariamente o fim das festas e comemorações carnavalescas em Fevereiro ou Março. Em alternativa poderão realizar-se grandes desfiles de carnaval, concursos de trajes e fantasias, bailes e demais programas festivos desta quadra, em espaços fechados disponíveis na cidade, como por exemplo o CAE, o Casino, os Mercados Municipais, as salas das diversas coletividades, e porque não, o Coliseu Figueirense, devidamente apetrechado com uma cobertura amovível, caso os seus proprietários um dia assim o entendam.
Desta forma, a organização do Carnaval e as Escolas de Samba constituídas na Figueira/Buarcos com qualidade apreciável, poderiam repartir por duas épocas diferentes (inverno e verão) as festividades de Carnaval, assegurando a rentabilidade do seu investimento, quer na realização, direi “artística e de entretenimento” dos seus participantes, quer nos resultados de bilheteira.
A título de curiosidade, lembro que desde os anos 60 do século passado, realiza-se anualmente na capital britânica, nos últimos domingo e 2.ª feira do mês de Agosto, mais concretamente no bairro londrino de Notting Hill, um dos maiores carnavais de rua do mundo, a seguir ao Rio de Janeiro.
É organizado pelas comunidades britânicas originárias de países das chamadas Índias Ocidentais (as ilhas das Antilhas e Bahamas nas Caraíbas), e é considerado um dos maiores festivais de rua do mundo.
O Carnaval de Notting Hill atrai cerca de um milhão de pessoas por ano que não querem perder os dois dias de desfiles, que exibem centenas de participantes com fantasias temáticas em corpos insinuantes, sob um clima ameno de verão europeu.
As imagens das bailarinas e de muitos “performers” são semelhantes aos que estamos habituados a ver desfilar no sambódromo no Rio de Janeiro, com biquínis mais ou menos reduzidos, plumas, muita cor e animação, exibindo um calor humano exuberante, apesar de o clima londrino estar longe de registar temperaturas tropicais, mesmo no verão.
Estou em querer que esta modalidade (salvo as devidas diferenças culturais e de escala) transposta, por exemplo, para o mês de Agosto da Figueira da Foz, com um clima bem mais quente e apelativo do que o de Londres, iria dar um grande fôlego à animação de verão da cidade, complementando a oferta de referência de verão da autarquia, ou seja, o festival de música eletrónica “sun set”, mais vocacionado para o público jovem.
A eventual realização de algo parecido com um Carnaval de Verão, no programa de animação da época balnear, contemplando alguma inovação no formato clássico do cortejo alegórico na avenida, poderá também constituir-se como mais um evento-âncora da cidade, por forma a animar o verão figueirense e abranger um leque maior de público, gostos, idades e folias.  

João Saltão     

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