Esta semana o acontecimento dominante na Figueira da Foz, foi a aprovação do contracto de concessão da Piscina Praia, ocorrida na última reunião de câmara.
Não obstante o tema já ter sido bastante discutido, e bem, na
opinião pública e publicada do burgo, gostaria também de partilhar algumas
considerações sobre esta matéria.
Como é sabido, a Câmara Municipal da Figueira já há alguns anos
que pretendia reabilitar o Complexo Piscina-Mar e devolvê-lo ao uso e fruição
dos figueirenses e visitantes. Para o efeito, em 2017 apresentou um Concurso
Público para a Concessão de Obra Pública de Reabilitação/Reconversão e Exploração
deste equipamento, aprovado em Reunião de Câmara a 16 de Fevereiro de 2017.
O referido Concurso Público, esteve aberto a interessados na realização das obras de reabilitação/reconversão daquele espaço, prevendo no seu caderno de encargos, a entrega do imóvel em concessão para exploração por um período de 50 anos.
Aquele prazo, segundo a Câmara, pretendia proporcionar aos
concorrentes as melhores garantias de retorno do investimento inicial
necessário, que se prevê não ser inferior a 2M€ só na fase de reabilitação/reconversão do imóvel.
A concessão prevê o respeito por um programa mínimo exigido pelo Município, que consiste, no
essencial, em manter a piscina com as suas atuais dimensões e com água salgada,
instalar uma cobertura que permita a sua utilização durante o ano, para além da
manutenção da sala de restaurante e de um programa de hotelaria ou similar nos
espaços da antiga estalagem, respeitando sempre a identidade formal do complexo.
Tive o cuidado de percorrer o “site” da internet da Câmara, onde se refere que o processo de concurso público encontra-se disponível na plataforma eletrónica de contratação pública designada ACINGOV bem como no website do próprio Município, onde podem ser consultadas as peças do processo.
Tive o cuidado de percorrer o “site” da internet da Câmara, onde se refere que o processo de concurso público encontra-se disponível na plataforma eletrónica de contratação pública designada ACINGOV bem como no website do próprio Município, onde podem ser consultadas as peças do processo.
Acontece que a navegabilidade e usabilidade do website do
município, é de tal maneira sofrível, que não permite identificar com um link/palavra sensível, o acesso ao
referido concurso, remetendo-nos para uma consulta não especificada nem “linkada”
para o domínio ACINGOV, que terá de ser descoberta fora do website da Câmara, para
verificar que se trata da Plataforma Eletrónica de Compras Públicas do Estado.
Quem pretender ter acesso detalhado ao caderno de encargos
daquele concurso, terá de andar às voltas no website da câmara (incluindo o
campo pesquisar), porque não encontra nenhum “link visível” ou referência URL que
o direcione para aquele documento.
Por outro lado, quem quiser procurar no website da tal plataforma de compras públicas ACINGOV
ou mesmo no domínio “concursos” da página da Ordem dos Arquitetos, por exemplo,
e caso não detenha dados específicos de procura, dificilmente encontrará o
bendito Caderno de Encargos do concurso para o complexo piscina-mar da Figueira.
A tão apregoada transparência do município e a encriptação da
informação sobre este processo, parece que não combinaram lá muito bem. Vá-se
lá saber porquê !!
Entretanto a Câmara da Figueira mais recentemente
lançou uma nova hasta pública para o complexo da piscina-mar, desta vez com um
caderno de encargos menos exigente, sendo que a primeira tentativa já referida,
a de 2017, ficou deserta.
“Houve muitos interessados, mas, quando chegou a hora da verdade, não
concorreram, porque consideraram o projeto pouco rentável”, afirmou na
altura a vereadora Ana Carvalho ao jornal AS BEIRAS.
Li há poucos dias no Jornal Económico, um artigo
de Reis Campos, Presidente da
Confederação Portuguesa de Construção e Imobiliário, onde aquele dirigente
considera “irrealistas os preços base em
concursos lançados por entidades públicas, que acabam desertos, reivindicando
definição de preços de referência para pôr fim à discricionariedade”.
É bem conhecida esta técnica de tornar desertos os concursos públicos e
a seguir contratar por ajuste direto
ou “aparência oportuna” de concurso, para não lhe chamar outra coisa.
Nesta nova hasta pública, que quem vier a
explorar aquele imóvel icónico da Figueira da Foz, terá de investir no mínimo,
dois milhões de euros, mas pelos vistos não terá de pagar renda, já que a
autarquia abdicou daquele rendimento, tendo em conta o valor do investimento e
a utilidade da reabilitação e da utilização daquele edifício municipal. O
concessionário terá, no entanto, de garantir uma caução de 120 mil euros.
Parece que a
concessão agora aprovada vai ser entregue a uma empresa hoteleira com forte
implantação no Algarve, não se sabe bem qual, cujo capital social é de apenas
5.000,00 € !!!???, tendo sido fixada pela Câmara, uma magra caução para efeitos
de garantia de incumprimento, no valor de 120.000€, repito 120.000€!, isto
tudo para um investimento de obra que ultrapassa o valor de 3 milhões de euros,
acrescido do facto se tratar duma intervenção num edifício classificado !
Ficam estas
interrogações, e vamos ver
o que sairá daqui!
João Saltão
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