Figueira da Foz, segundo Francisco Caeiro, in http://www.pomardaslaranjeiras.blogspot.pt/2013/08/figueira-da-foz.html
É
o Atlântico que o olhar sempre nos revela quando dobramos uma esquina, qualquer
que seja a nossa rota. E este é o doce privilégio da Figueira.
E
percorrendo a marginal rumo a Buarcos, à esquerda o mar, de um intensíssimo tom
de azul, impõe-se sempre por maior que seja o tapete de areia que de oiro nos
faz o caminho até às ondas que não resistem e que em espuma branca se desfazem
no beijo infinito a esta terra.
Ao
longe, subimos à Boa Viagem e da vista que parte de Quiaios vemos como por três
linhas paralelas de verde pinho, oiro de areia e azul Atlântico, se desenha o
destino marinheiro de Portugal, a janela perfeita de onde a terra namora o mar.
Quem
nunca subiu até aqui por favor não diga que conhece Portugal.
E
a Figueira é a Foz, do Mondego, ilustríssimo príncipe das Beiras, estrada que
ao mar entrega a herança maior da terra e da gente guerreira da Lusitânia.
Cheguei
há pouco à Figueira vindo de sul e ficarei por aqui a gozar o repouso de uma
noite. E na Figueira, sempre que entre céu e mar, o azul se apaga para que
brilhem as estrelas, a brisa perpetua na noite esta imperial e constante
presença do mar.
Hoje
viajei de carro na companhia dos meus pais e numa conversa a três que dispensa
sempre quaisquer estações de rádio ou CD de música.
Mas
poderíamos ter chegado de comboio como há precisamente vinte e cinco anos
quando com um grupo de cinco amigos chegámos para umas breves férias.
Desde
Vila Viçosa fizemos uma viagem de doze horas de comboio, ficámos num
apartamento só com quatro colchões o que obrigava que de forma rotativa um de
nós dormisse numa tábua, despejámos o lixo durante o fim-de-semana para um
sistema de recolha centralizada que já estava desactivado, e a senhora que
chegou aos escritório que funcionava na antiga casa da porteira do prédio
deparou-se na Segunda-feira com todos os restos da comida que nós próprios preparávamos,
íamos ao cinema às sessões da meia-noite numa sala que cheirava intensamente a “Benzovac”
e onde apurávamos o vencedor do concurso “Quem mais ressona”, e um dos Paulo’s,
embalado na onda do gel que há poucos anos substituíra com vantagens a
brilhantina, até fez um penteado com aplicações de pipocas…
Passei
há pouco pela varanda da “nossa” casa. Continua igual.
Olhei
o mar que se vê tão bem desde a esquina dessa rua que lhe é perpendicular, quase
incrédulo pelo quarto de século que passou. O mar também continua igual.
E
eu?
Acho
que também continuo igual, em quase tudo e especialmente na fidelidade à vida,
ao amor e aos sonhos numa espécie de genética da esperança que se apagará
comigo.
A
brisa fresca fez com que recolhêssemos ao hotel e eu escrevo olhando a janela que
dá para uma imensidão de negro onde de vez em quando piscam luzes que parecem
imitar o infinito brilho das estrelas.
E
que me importa o negro se o regresso do sol me devolverá pela manhã o azul do
mar.
No
ciclo do tempo, como na vida, há sempre um amanhã… porque o sol, irmão da
sorte, nunca nos falha.
Todos
os lugares carregam a sua própria magia que é potenciada pelos pedaços inesquecíveis
da nossa própria história quando algures no tempo nos cruzámos com eles.
E
a Figueira, Foz do Mondego é também assim perfeita por ser mestra de vida e pela
cumplicidade que me oferece aos sonhos, hoje, tal e qual como naquela partilha
de 1988.
A Figueira e o mar Português, cúmplices, no legitimar de todas as
esperanças.
A estrada da Serra da B Viagem está num estado lastimoso
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