NATÁLIA DE ANDRADE






















Fabulosa "vida" a desta Mulher que se inventou a Ela própria. Fabulosa Actriz num desempenho dramático de uma vida sem palco, mas que encheu os palcos de Vida. Não é uma DIVA. Foi Ela mesma. E por isso é recordada, e admirada. Quantas vezes teremos nós, a possibilidade de nos rir-mos de nós próprios. 
Saudades da Natália de Andrade.
João Saltão

"A maior cantora lírica de todos os tempos", Natália de Andrade viveu apaixonada pelas personagens das óperas, que interpretava muito à sua maneira.

"A voz de cristal portuguesa", como ela própria o afirmou, fez a sua primeira audição aos 10 anos, para solista do coro das lavadeiras.

- Depois da minha mãe sou a maior cantora lírica do mundo. Callas? Quais Callas, quais carapuça!

Foi com veemência que Natália de Andrade fez esta afirmação e prosseguiu:

- Criei uma maneira diferente de vocalizar, um método maravilhoso: faço escalas apenas durante 10 minutos.

Estreou-se para o grande público aos 15 anos no Coliseu de Lisboa. A sua primeira gravação foi feita nos estúdios Columbia, em Espanha.

Dedicou toda a sua vida à arte.
Ao longo de 60 anos, foi vítima de atentados e apontava como responsáveis a inveja e o ciúme existentes no meio artístico.

-Já ouvi dizer a meu respeito: "É uma grande maçada quando ela aparece!" Tudo inveja!
Adoro a minha arte. Dediquei-me a ela de corpo e alma. De tal forma, que quando fugi para Barcelona, fugi do casamento e do sexo. Aliás, hei-de morrer virgem! Porque eu sou uma mulher apaixonada pela maneira como canto e as relações sexuais iriam afectar a perfeição!

Quando editava um disco, a sua edição imediatamente se esgotava, comprados pelos seus admiradores e conhecedores do seu estilo inconfundível.

Sempre aboliu certas regras existentes, vivendo de forma hiper-dramática as cenas que cantava e levando o seu público ao delírio.

Descrevia-se como uma activista-modernista.

Atribuía parte da inveja que causava, pelo facto de ter sido entusiasticamente ovacionada em Coimbra pelos estudantes, após ter cantado músicas tradicionais de várias regiões de Portugal, imitando as suas pronúncias.

Em 1989, poucos anos antes da sua morte, afirmou:

- Gostava de aparecer aos meus admiradores portugueses e de além-fronteiras com esta idade e com um palco onde pudesse realmente fazer brilhar a minha inimitável voz. Depois de tudo isso já não me importo de morrer. Terei cumprido o meu destino, a vontade de Deus. A vontade que sempre quiseram contrariar, silenciando a minha voz, mas os meus amigos, que tanto me estimam, sempre me avisaram das conspirações e eu saí ilesa.


(Entrevista efectuada em 1989
por Ana Paula Abreu)

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