Subsídios e outros quejandos
















A propósito das subvenções e subsídios dos políticos, tenho lido por aí muita coisa. Dos discursos mais radicais do "eles são todos uns ladrões" ao "isso é subjugar a lei à ditadura do vox populi", passando pelo mais sensato "a política tem de ser recompensada, senão os bons fogem", já ouvi um pouco de tudo.

Parece que agora até Aguiar Branco recusou o subsídio de alojamento, apesar de não ter casa em Lisboa. O ordenado que aufere permite-lhe arrendar uma casa, e portanto prescinde dessa ajuda. De todos os casos mencionados, tanto em relação à subvenção vitalícia como aos subsídios de alojamento, ninguém estava em violação da lei. Políticos e ex-políticos usufruíam de uma benesse permitida por lei. A benesse tem por justificação o reconhecimento da importância dos serviços ao Estado, sem que o político em questão saia prejudicado.
Como estamos cansados de saber, os tempos mudaram. Se antes o dinheiro parecia esticar, e o Orçamento do Estado chegava a todo o lado, agora temos uma peça de roupa tamanho S a ser desfeita por um corpo XXL. Os contribuintes sentem isso diariamente, e os beneficiários do sistema social também. Todos sofrem. Apesar dos cortes salariais que sofreu, a classe política ainda vive bastante acima do português médio. É natural e desejável que assim seja, por uma questão de independência. Mas é em tempos destes que a legitimidade é testada no terreno, e não chega a justificação de que a lei permite. É que, meus amigos, a lei também permitia um 13.º e um 14.º mês de salários, e esses já foram cortados. Os políticos têm a obrigação de dar o exemplo, bem para além da legalidade, para evitar perder a legitimidade. E não, isto não é uma demagogia, ou populismo do pior. É a simples constatação de que fica mal usufruir dessas benesses ao mesmo tempo que fazem cortes a quem ganha 600 ou 700 euros por mês. E, já dizia o provérbio, à mulher de César não basta ser séria, é preciso parecê-lo. O carácter, a idoneidade moral e a noção de justiça provam-se nestes tempos. Felizmente, ainda há quem esteja a passar com distinção o desafio (ao contrário de outros).

Comentários

Enviar um comentário